terça-feira, 4 de agosto de 2009

O trabalho de Deus tem que ser feito!

Imaginem milhares num navio que faz água. Os que deveriam estar bombeando a água e tapando as brechas estão se divertindo ou dormindo. Pois bem, vocês não os acordariam e não os chamariam para o seu trabalho, pela salvação das suas próprias vidas? Os homens os julgariam errados por falarem claramente e em tom de urgência com os preguiçosos? Vocês não diriam, "o trabalho tem que ser feito, ou, senão, todos morreremos"? "O navio está quase afundando, e vocês me vêm falar de reputação"? É este o nosso caso, irmãos! O trabalho de Deus tem que ser feito!


Richard Baxter.

(Extraído do excelente livro O Pastor Aprovado - Editora PES, págs. 28 e 29)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O dia mais importante para a Humanidade

2009 é o ano em que se comemoram os quarenta anos da chegada do homem à lua. Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar em solo lunar, ao fazê-lo, disse uma frase que até hoje ecoa como a mais triunfal conquista humana de todos os tempos: “É um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a Humanidade” (quem nunca ouviu essa frase é porque deveria – ou, deve – estar no “mundo da lua”). Mas, o que mais me chamou a atenção foi o que disse Richard Nixon, o então presidente estadunidense da época. Com uma empáfia singular, talvez fruto do orgulho americano por serem eles os primeiros a conseguir tal façanha, Nixon falou em alto e bom som que “esse é o dia mais importante para a Humanidade – o dia em que o homem pôs os seus pés na lua”. Foi aí que um grande evangelista do século vinte, Billy Graham, resolveu reagir à afirmação de Nixon. Disse Billy: “o dia mais importante para a Humanidade não foi o dia em que o homem pôs os seus pés na lua, e sim, o dia em que Deus pôs os seus pés na Terra”. A Casa Branca estremeceu!

A declaração de Billy Graham é largamente confirmada pelas Escrituras. Há cerca de novecentos e quarenta anos antes de Cristo nascer, Salomão já questionava: “de fato, habitaria Deus na terra?” (2 Rs 8.27). O evangelista João responde que “sim”, que o “verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). O “Servo Sofredor” de Isaías 53, finalmente, saiu das páginas do papiro para as páginas da História, ao tabernacular entre nós. As grandes profecias concernentes à vinda do Messias estavam sendo plenamente cumpridas (e.g. Gn 3.15; Dt 18.15-19; Is 7.14; 9.6,7; 61.1-3). E, ao contrário do que muitos possam pensar, a data do nascimento de Cristo não foi escolhida aleatoriamente, como se o planejamento de Deus fosse, de alguma forma, impreciso. De acordo como o apóstolo Paulo, Deus escolheu “a plenitude do tempo” para enviar Seu Filho, “nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4 – cf. Is 49.8). Ao mesmo tempo em que o apóstolo defende o nascimento virginal de Cristo, bem como a sua divindade e humanidade plenas (as “duas naturezas”), ele também faz uma apologia da Sabedoria e Providência de Deus em escolher o tempo preciso para a encarnação do Seu Filho. Ainda assim, tudo isso teve um propósito específico: “resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Jesus não veio à Terra simplesmente para tornar-se carne e ponto final. Se assim o fosse não caberia a Ele o título de “Salvador”. O anjo que anunciou a José o nascimento de Cristo disse-lhe que Jesus (nome que significa “O Senhor é a salvação”) viria à Terra para salvar “o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Jesus veio fazer o que homem nenhum conseguiu e jamais conseguirá: cumprir a lei de Deus (Mt 5.17). Por este motivo é que “aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feito justiça de Deus” (2 Co 5.21). Simeão bem sabia disso, quando louvou a Deus dizendo:

“Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo de Israel” (Lc 1.29-32).

Tanto para Simeão quanto para todos os outros santos e profetas aquele tinha sido o dia mais importante para a Humanidade.

Quarenta anos se passaram e o homem jamais conseguiu voltar à lua. Aliás, esse fato é alvo de muitas controvérsias. Há muitas teorias que buscam provar a farsa da NASA, haja vista o momento político da época, em que os Estados Unidos queriam provar a sua supremacia tecnológica sobre a emergente União Soviética (Capitalismo x Socialismo). Todavia, não é nosso objetivo, aqui, entrar no mérito da questão. O fato é que, se ainda há dúvidas sobre a odisseia lunar empreendida pelos norte-americanos, não nos resta dúvida da “odisseia terráquea” empreendida por Deus, a saber, a de enviar-nos o Seu Filho – Jesus Cristo, a “Luz do mundo” (Jo 8.12). Também não nos resta dúvida de que Cristo voltará à Terra (ao contrário do homem, que jamais conseguiu voltar à lua), desta vez não para derramar novamente seu sangue na cruz (cf. Hb 9.11-28), mas “com poder e grande glória”, para promover a redenção final daqueles que Lhe pertencem (Lc 21.27,28). Maranata!
Soli Deo Gloria!!!

sábado, 4 de julho de 2009

"O que você faria se só te restasse esse dia"? - Uma reflexão sobre a Morte

No ano de 1996 a Rede Globo lançou uma novela curta, de apenas 35 capítulos, que abordava uma das mais intrigantes questões existenciais que atormentam o ser humano. A novela se chamava O Fim do Mundo, um nome suficientemente sugestivo para causar no telespectador um misto de curiosidade, expectativa e terror (além de dar audiência, é claro!). À época eu tinha apenas onze anos, mas já conseguia mensurar mais ou menos as implicações que esse tema trazia consigo. O tema de abertura era uma música do Paulinho Moska chamada “O último dia”, que explorava o seguinte dilema em um dos seus versos: “O que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria”? Essa simples indagação já era suficiente para que o medo e o pavor se instalassem em meus pensamentos.

É incontestável o fato de que essa é uma questão que inquieta tanto religiosos quanto céticos ao redor do mundo. Mesmo nós que cremos na ressurreição do corpo ficamos incomodados quando o assunto é a morte. Como bem observou Eleny Vassão no seu livro Aconselhando a Pacientes Terminais, “a simples menção dessa palavra tão deprimente e pesada faz com que desapareça o sorriso dos rostos das pessoas, transformando qualquer conversa descontraída em tétrico e constrangedor encontro”[1]. Se o que está em jogo é o fim do mundo inteiro ou de uma vida apenas pouco importa. O fato é que, diante da iminência do fim, todos tremem (e temem). O que será que se passa na cabeça daquelas pessoas que estão dentro de um avião que está prestes a cair na imensidão do oceano? “O que você faria se só te restasse esse dia”? – eis a pergunta que não quer calar.

Há alguns exemplos notáveis na Bíblia de pessoas cientes de que estavam nos seus “últimos dias”. Jacó reúne todos os seus filhos para falar-lhes o que haveria de lhes acontecer “nos dias vindouros” (Gn 49.1). Depois de lhes mostrar quais seriam as doze tribos de Israel e de ter abençoado a cada um dos seus filhos (v. 28), o velho patriarca “recolheu os pés na cama, e expirou” (v. 33). Deus convida Moisés para que este suba ao monte Nebo e lhe dá a seguinte certeza: “E morrerás no monte, ao qual terás subido” (Dt 32. 49-50). Diante da certeza indubitável de que aquele seria o seu “último dia” de vida na terra, a última coisa que o grande profeta faz é abençoar o povo em forma de cântico (Dt 33). Saul, diante da absoluta certeza de que seria trucidado pelos filisteus, resolveu suicidar-se (1Sm 31.1-4). Um dos exemplos mais conhecidos de todos talvez seja o dos dois malfeitores que estavam ao lado de Jesus na cruz, fato registrado pelo médico Lucas. Enquanto um deles, pensando apenas na vida terrena, blasfemou, o outro, temendo a Deus e confessando a impecabilidade de Jesus, creu na realidade do Reino e ouviu dos próprios lábios do Mestre a promessa de que “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.39-43). No livro de Atos o mesmo Lucas nos informa ainda que, em meio a uma terrível tempestade no mar onde navegavam rumo a Roma, “dissipou-se, afinal, toda esperança de salvamento” (At 27.20). Naquela ocasião, entretanto, ninguém morreu, mas o susto foi tamanho que, aos olhos humanos, tudo estava perdido. O apóstolo Paulo também se viu diante do fim. Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, Paulo prevê o seu próprio martírio: “estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2Tm 4.6). A palavra no original grego para “partida” é analusis, que significa, literalmente, “o soltar das cordas” para a saída do navio[2]. Diante da inexorável marcha da morte o apóstolo ainda encontra tempo para utilizar-se de metáforas!

No decorrer da História da Igreja também temos inúmeros exemplos. Leia-se os mártires da Igreja Primitiva, por exemplo. O historiador Tácito registra que, sob a perseguição imposta pelo desvairado Nero, ainda na era apostólica, os cristãos
Uma vez condenados à morte, [...] se tornavam objetos de diversão. Alguns, costurados em peles de animais, expiravam despedaçados por cachorros. Outros morriam crucificados. Outros ainda eram transformados em tochas vivas para iluminar a noite[3].
Nos séculos subseqüentes muitos outros ainda seriam queimados vivos nas fogueiras do Império Romano. A Reforma também gerou seus mártires. John Bradfrod, Nicholas Ridley, Thomas Cranmer e Hugh Latimer estão entre eles. É dito que enquanto Nicholas Ridley ardia na fogueira da Inquisição, Latimer o encorajava dizendo: “Fique confortado, Meste Ridley, e jogue o homem; nós veremos este dia lançar uma luz tal sobre a Inglaterra, pela graça de Deus, como nunca ocorrera antes”[4]. O que todos eles tinham em comum era a plena convicção de que estavam sendo levados como ovelhas para o matadouro; todos sabiam que aqueles eram os seus “últimos dias”; todos se viam diante da temível e terrível morte.

Diante de um quadro tão aterrador alguém pode perguntar que outro sentimento, além do pavor e do desespero, tomava os corações daqueles cristãos que sabiam que estavam prestes a deixar este tabernáculo. Minha resposta é que o sentimento que os encorajava era a convicção de que, como bem disse o apóstolo Paulo, “se a nossa casa terrestre se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2Co 5.1). O mesmo apóstolo admite que “partir e estar com Cristo [...] é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). Escrevendo a Timóteo, Paulo disse ao seu amado discípulo que após ter combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a fé, “a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia” (2Tm 4.7, 8). Comentando essa passagem, Calvino, após falar sobre o medo natural do ser humano quando o assunto é a morte, completa dizendo que “a fé, porém, deve vencer tal temor, para que o mesmo não nos impeça de partir obedientemente deste mundo, quando Deus nos chamar”[5]. O próprio reformador deu exemplo desta sua convicção na sua própria vida. No seu leito de morte, em 25 de abril de 1564, o reformador de Genebra disse em seu testamento:
Confesso ter vivido e confesso que morrerei nessa fé que Ele me deu, porquanto não possuo outra esperança ou refúgio além de sua predestinação sobre a qual toda minha salvação está baseada. Recebo a graça que Ele me ofereceu em nosso Senhor Jesus Cristo e aceito os méritos do seu sofrimento e morte, por meio dos quais todos os meus pecados estão enterrados[6].
O grande reformador confirma o pensamento de Paulo, de que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). É preciso acreditar que o melhor, e não o pior, espera aqueles que creem irrestritamente nas promessas de Deus.

Lembro-me de um dia em que eu estive diante da morte. Estava voltando da igreja quando fui abordado por um homem armado que me confundia com um bandido que ele queria matar. De início, fui tomado pelo pavor. Num instante passou-se um filme rápido em minha memória dos momentos que vivi ao lado das pessoas que eu mais amava. Mas depois, paulatinamente, o Espírito Santo foi me confortando. Entre as ameaças de morte que aquele homem respirava contra mim eu lhe falei que eu era crente. Logo, ele recuou, meio que arrependido (um amigo meu que estava comigo e não era crente, também resolveu dizer que era!). Comecei a lhe falar de Cristo, e subitamente o homem me interrompeu: “Tá bom, 'irmão'! Você quer ir pro céu mais cedo”? Naturalmente, eu lhe respondi que não (quem responderia que “sim” que atire a primeira pedra!), e aquele homem nos deixou partir, com a condição de que não olhássemos para trás. Depois do ocorrido fiquei a pensar se eu tinha realmente a certeza de que me encontraria com Cristo se o pior (humanamente falando) acontecesse. Posso dizer com toda a convicção que sim! O medo, como disse Calvino, não pode nos impedir de partir obedientemente deste mundo, quando Deus nos chamar. “A fé é a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11.1)! Esta é uma certeza que somente aqueles quem tem a Cristo possuem. Aleluia!

Soli Deo Gloria!

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[1] Op. cit. Pág. 9.
[2] Nota de rodapé da Bíblia Shedd.
[3] Bettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. Editora Aste, São Paulo – SP, 2001. Pág. 27.
[4] Cairns, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. Editora Vida Nova, São Paulo – SP, 1995. 2ª Ed. Pág. 271.
[5] Idem (itálico meu). [6] Beza, Theodore. The life of John Calvin. Edinburg, Scotland: Calvin Translation Society, 1844. Reimpresso por Back Home Industries, 1996. Pág. 99-103. Citado por Steve J. Lawson em A Arte Expositiva de João Calvino. Editora Fiel, 2008. Pág. 28.