terça-feira, 4 de agosto de 2009

O trabalho de Deus tem que ser feito!

Imaginem milhares num navio que faz água. Os que deveriam estar bombeando a água e tapando as brechas estão se divertindo ou dormindo. Pois bem, vocês não os acordariam e não os chamariam para o seu trabalho, pela salvação das suas próprias vidas? Os homens os julgariam errados por falarem claramente e em tom de urgência com os preguiçosos? Vocês não diriam, "o trabalho tem que ser feito, ou, senão, todos morreremos"? "O navio está quase afundando, e vocês me vêm falar de reputação"? É este o nosso caso, irmãos! O trabalho de Deus tem que ser feito!


Richard Baxter.

(Extraído do excelente livro O Pastor Aprovado - Editora PES, págs. 28 e 29)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O dia mais importante para a Humanidade

2009 é o ano em que se comemoram os quarenta anos da chegada do homem à lua. Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar em solo lunar, ao fazê-lo, disse uma frase que até hoje ecoa como a mais triunfal conquista humana de todos os tempos: “É um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a Humanidade” (quem nunca ouviu essa frase é porque deveria – ou, deve – estar no “mundo da lua”). Mas, o que mais me chamou a atenção foi o que disse Richard Nixon, o então presidente estadunidense da época. Com uma empáfia singular, talvez fruto do orgulho americano por serem eles os primeiros a conseguir tal façanha, Nixon falou em alto e bom som que “esse é o dia mais importante para a Humanidade – o dia em que o homem pôs os seus pés na lua”. Foi aí que um grande evangelista do século vinte, Billy Graham, resolveu reagir à afirmação de Nixon. Disse Billy: “o dia mais importante para a Humanidade não foi o dia em que o homem pôs os seus pés na lua, e sim, o dia em que Deus pôs os seus pés na Terra”. A Casa Branca estremeceu!

A declaração de Billy Graham é largamente confirmada pelas Escrituras. Há cerca de novecentos e quarenta anos antes de Cristo nascer, Salomão já questionava: “de fato, habitaria Deus na terra?” (2 Rs 8.27). O evangelista João responde que “sim”, que o “verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). O “Servo Sofredor” de Isaías 53, finalmente, saiu das páginas do papiro para as páginas da História, ao tabernacular entre nós. As grandes profecias concernentes à vinda do Messias estavam sendo plenamente cumpridas (e.g. Gn 3.15; Dt 18.15-19; Is 7.14; 9.6,7; 61.1-3). E, ao contrário do que muitos possam pensar, a data do nascimento de Cristo não foi escolhida aleatoriamente, como se o planejamento de Deus fosse, de alguma forma, impreciso. De acordo como o apóstolo Paulo, Deus escolheu “a plenitude do tempo” para enviar Seu Filho, “nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4 – cf. Is 49.8). Ao mesmo tempo em que o apóstolo defende o nascimento virginal de Cristo, bem como a sua divindade e humanidade plenas (as “duas naturezas”), ele também faz uma apologia da Sabedoria e Providência de Deus em escolher o tempo preciso para a encarnação do Seu Filho. Ainda assim, tudo isso teve um propósito específico: “resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Jesus não veio à Terra simplesmente para tornar-se carne e ponto final. Se assim o fosse não caberia a Ele o título de “Salvador”. O anjo que anunciou a José o nascimento de Cristo disse-lhe que Jesus (nome que significa “O Senhor é a salvação”) viria à Terra para salvar “o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Jesus veio fazer o que homem nenhum conseguiu e jamais conseguirá: cumprir a lei de Deus (Mt 5.17). Por este motivo é que “aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feito justiça de Deus” (2 Co 5.21). Simeão bem sabia disso, quando louvou a Deus dizendo:

“Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo de Israel” (Lc 1.29-32).

Tanto para Simeão quanto para todos os outros santos e profetas aquele tinha sido o dia mais importante para a Humanidade.

Quarenta anos se passaram e o homem jamais conseguiu voltar à lua. Aliás, esse fato é alvo de muitas controvérsias. Há muitas teorias que buscam provar a farsa da NASA, haja vista o momento político da época, em que os Estados Unidos queriam provar a sua supremacia tecnológica sobre a emergente União Soviética (Capitalismo x Socialismo). Todavia, não é nosso objetivo, aqui, entrar no mérito da questão. O fato é que, se ainda há dúvidas sobre a odisseia lunar empreendida pelos norte-americanos, não nos resta dúvida da “odisseia terráquea” empreendida por Deus, a saber, a de enviar-nos o Seu Filho – Jesus Cristo, a “Luz do mundo” (Jo 8.12). Também não nos resta dúvida de que Cristo voltará à Terra (ao contrário do homem, que jamais conseguiu voltar à lua), desta vez não para derramar novamente seu sangue na cruz (cf. Hb 9.11-28), mas “com poder e grande glória”, para promover a redenção final daqueles que Lhe pertencem (Lc 21.27,28). Maranata!
Soli Deo Gloria!!!

sábado, 4 de julho de 2009

"O que você faria se só te restasse esse dia"? - Uma reflexão sobre a Morte

No ano de 1996 a Rede Globo lançou uma novela curta, de apenas 35 capítulos, que abordava uma das mais intrigantes questões existenciais que atormentam o ser humano. A novela se chamava O Fim do Mundo, um nome suficientemente sugestivo para causar no telespectador um misto de curiosidade, expectativa e terror (além de dar audiência, é claro!). À época eu tinha apenas onze anos, mas já conseguia mensurar mais ou menos as implicações que esse tema trazia consigo. O tema de abertura era uma música do Paulinho Moska chamada “O último dia”, que explorava o seguinte dilema em um dos seus versos: “O que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria”? Essa simples indagação já era suficiente para que o medo e o pavor se instalassem em meus pensamentos.

É incontestável o fato de que essa é uma questão que inquieta tanto religiosos quanto céticos ao redor do mundo. Mesmo nós que cremos na ressurreição do corpo ficamos incomodados quando o assunto é a morte. Como bem observou Eleny Vassão no seu livro Aconselhando a Pacientes Terminais, “a simples menção dessa palavra tão deprimente e pesada faz com que desapareça o sorriso dos rostos das pessoas, transformando qualquer conversa descontraída em tétrico e constrangedor encontro”[1]. Se o que está em jogo é o fim do mundo inteiro ou de uma vida apenas pouco importa. O fato é que, diante da iminência do fim, todos tremem (e temem). O que será que se passa na cabeça daquelas pessoas que estão dentro de um avião que está prestes a cair na imensidão do oceano? “O que você faria se só te restasse esse dia”? – eis a pergunta que não quer calar.

Há alguns exemplos notáveis na Bíblia de pessoas cientes de que estavam nos seus “últimos dias”. Jacó reúne todos os seus filhos para falar-lhes o que haveria de lhes acontecer “nos dias vindouros” (Gn 49.1). Depois de lhes mostrar quais seriam as doze tribos de Israel e de ter abençoado a cada um dos seus filhos (v. 28), o velho patriarca “recolheu os pés na cama, e expirou” (v. 33). Deus convida Moisés para que este suba ao monte Nebo e lhe dá a seguinte certeza: “E morrerás no monte, ao qual terás subido” (Dt 32. 49-50). Diante da certeza indubitável de que aquele seria o seu “último dia” de vida na terra, a última coisa que o grande profeta faz é abençoar o povo em forma de cântico (Dt 33). Saul, diante da absoluta certeza de que seria trucidado pelos filisteus, resolveu suicidar-se (1Sm 31.1-4). Um dos exemplos mais conhecidos de todos talvez seja o dos dois malfeitores que estavam ao lado de Jesus na cruz, fato registrado pelo médico Lucas. Enquanto um deles, pensando apenas na vida terrena, blasfemou, o outro, temendo a Deus e confessando a impecabilidade de Jesus, creu na realidade do Reino e ouviu dos próprios lábios do Mestre a promessa de que “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.39-43). No livro de Atos o mesmo Lucas nos informa ainda que, em meio a uma terrível tempestade no mar onde navegavam rumo a Roma, “dissipou-se, afinal, toda esperança de salvamento” (At 27.20). Naquela ocasião, entretanto, ninguém morreu, mas o susto foi tamanho que, aos olhos humanos, tudo estava perdido. O apóstolo Paulo também se viu diante do fim. Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, Paulo prevê o seu próprio martírio: “estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2Tm 4.6). A palavra no original grego para “partida” é analusis, que significa, literalmente, “o soltar das cordas” para a saída do navio[2]. Diante da inexorável marcha da morte o apóstolo ainda encontra tempo para utilizar-se de metáforas!

No decorrer da História da Igreja também temos inúmeros exemplos. Leia-se os mártires da Igreja Primitiva, por exemplo. O historiador Tácito registra que, sob a perseguição imposta pelo desvairado Nero, ainda na era apostólica, os cristãos
Uma vez condenados à morte, [...] se tornavam objetos de diversão. Alguns, costurados em peles de animais, expiravam despedaçados por cachorros. Outros morriam crucificados. Outros ainda eram transformados em tochas vivas para iluminar a noite[3].
Nos séculos subseqüentes muitos outros ainda seriam queimados vivos nas fogueiras do Império Romano. A Reforma também gerou seus mártires. John Bradfrod, Nicholas Ridley, Thomas Cranmer e Hugh Latimer estão entre eles. É dito que enquanto Nicholas Ridley ardia na fogueira da Inquisição, Latimer o encorajava dizendo: “Fique confortado, Meste Ridley, e jogue o homem; nós veremos este dia lançar uma luz tal sobre a Inglaterra, pela graça de Deus, como nunca ocorrera antes”[4]. O que todos eles tinham em comum era a plena convicção de que estavam sendo levados como ovelhas para o matadouro; todos sabiam que aqueles eram os seus “últimos dias”; todos se viam diante da temível e terrível morte.

Diante de um quadro tão aterrador alguém pode perguntar que outro sentimento, além do pavor e do desespero, tomava os corações daqueles cristãos que sabiam que estavam prestes a deixar este tabernáculo. Minha resposta é que o sentimento que os encorajava era a convicção de que, como bem disse o apóstolo Paulo, “se a nossa casa terrestre se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2Co 5.1). O mesmo apóstolo admite que “partir e estar com Cristo [...] é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). Escrevendo a Timóteo, Paulo disse ao seu amado discípulo que após ter combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a fé, “a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia” (2Tm 4.7, 8). Comentando essa passagem, Calvino, após falar sobre o medo natural do ser humano quando o assunto é a morte, completa dizendo que “a fé, porém, deve vencer tal temor, para que o mesmo não nos impeça de partir obedientemente deste mundo, quando Deus nos chamar”[5]. O próprio reformador deu exemplo desta sua convicção na sua própria vida. No seu leito de morte, em 25 de abril de 1564, o reformador de Genebra disse em seu testamento:
Confesso ter vivido e confesso que morrerei nessa fé que Ele me deu, porquanto não possuo outra esperança ou refúgio além de sua predestinação sobre a qual toda minha salvação está baseada. Recebo a graça que Ele me ofereceu em nosso Senhor Jesus Cristo e aceito os méritos do seu sofrimento e morte, por meio dos quais todos os meus pecados estão enterrados[6].
O grande reformador confirma o pensamento de Paulo, de que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). É preciso acreditar que o melhor, e não o pior, espera aqueles que creem irrestritamente nas promessas de Deus.

Lembro-me de um dia em que eu estive diante da morte. Estava voltando da igreja quando fui abordado por um homem armado que me confundia com um bandido que ele queria matar. De início, fui tomado pelo pavor. Num instante passou-se um filme rápido em minha memória dos momentos que vivi ao lado das pessoas que eu mais amava. Mas depois, paulatinamente, o Espírito Santo foi me confortando. Entre as ameaças de morte que aquele homem respirava contra mim eu lhe falei que eu era crente. Logo, ele recuou, meio que arrependido (um amigo meu que estava comigo e não era crente, também resolveu dizer que era!). Comecei a lhe falar de Cristo, e subitamente o homem me interrompeu: “Tá bom, 'irmão'! Você quer ir pro céu mais cedo”? Naturalmente, eu lhe respondi que não (quem responderia que “sim” que atire a primeira pedra!), e aquele homem nos deixou partir, com a condição de que não olhássemos para trás. Depois do ocorrido fiquei a pensar se eu tinha realmente a certeza de que me encontraria com Cristo se o pior (humanamente falando) acontecesse. Posso dizer com toda a convicção que sim! O medo, como disse Calvino, não pode nos impedir de partir obedientemente deste mundo, quando Deus nos chamar. “A fé é a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11.1)! Esta é uma certeza que somente aqueles quem tem a Cristo possuem. Aleluia!

Soli Deo Gloria!

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[1] Op. cit. Pág. 9.
[2] Nota de rodapé da Bíblia Shedd.
[3] Bettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. Editora Aste, São Paulo – SP, 2001. Pág. 27.
[4] Cairns, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. Editora Vida Nova, São Paulo – SP, 1995. 2ª Ed. Pág. 271.
[5] Idem (itálico meu). [6] Beza, Theodore. The life of John Calvin. Edinburg, Scotland: Calvin Translation Society, 1844. Reimpresso por Back Home Industries, 1996. Pág. 99-103. Citado por Steve J. Lawson em A Arte Expositiva de João Calvino. Editora Fiel, 2008. Pág. 28.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Tragédia do AF 447


Por José Roberto de Souza(*)


Poderia, na condição de teólogo e pastor protestante, aproveitar a situação para expor o que penso e creio sobre a morte, mas não farei isso. Desejo refletir sobre a dor de quem fica e algumas lições que disso podemos aprender.

Percebo que por mais que a morte esteja a um “palmo” de distância dos nossos olhos, ou seja, mesmo que venhamos a testemunhar cotidianamente a presença da morte, seja através da partida de um ente querido, de um amigo, ou até mesmo de um desconhecido, uma coisa é certa: Não nos acostumamos com a morte. Ela é, e sempre será, uma estranha. Eleny Vassão no seu livro: Aconselhando Pacientes Terminais, diz algo interessante sobre a morte: “A simples menção dessa palavra tão deprimente e pesada faz com que desapareça o sorriso dos rostos das pessoas, transformando qualquer conversa descontraída em tétrico e constrangedor encontro. Mas, ainda que queiramos ignorar a morte, ela não deixa de existir. Ela é real e inevitável, pois faz parte da vida.” (VASSÃO: 1996, p. 9).

Recentemente o mundo acompanhou, através dos noticiários, a queda do AF 447, ceifando de uma só vez, a vida de 228 pessoas. Entre as pessoas que partiram, estavam: crianças, pais e filhos, recém-casados, e tantas outras. Havia algo em comum na vida dessas pessoas: Elas pretendiam ou planejavam. Eis alguns relatos de uma revista semanal: “Organizava um congresso médico, preparava-se para o maior passo de sua carreira (...); Começaria a cursar na Itália uma especialização em direito tributário (...); Contava os dias para, no fim do ano, mudar de vida e passar mais tempo com a mulher e as duas filhas (...); Comentou com os amigos que voltaria para as festas de fim de ano (...); Cursava doutorado na França, veio ao Brasil para um congresso e aproveitar a viagem para oficializar seu noivado com a namorada (...); Estava entusiasmado com sua primeira viagem à Europa. Em Portugal, iria encontrar tios e um primo. Mas, no domingo, todos esses sonhos, de matizes tão diversos, de pessoas tão diferentes, se desmancharam no ar, afundaram no mar, caíram por terra.” (VEJA: 10.06.09, pp.86-90).

Esse triste episódio, me fez relembrar as palavras do rei Davi: “Com efeito, passa o homem como uma sombra; amontoa tesouros e não sabe quem os levará.” (Sl. 39:6). Na sua epístola, Tiago ratifica: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.” (Tg. 4:14). Lembro-me de um comercial de uma ótica, que passava nas décadas de 70 e 80, dizia: “(...) A gente pensa que só pode acontecer com os outros.” Independentemente do que cremos, não podemos negar: quando alguém que amamos morre, temos que conviver com a dor da saudade. Por isso, nunca esqueça: “o valor da vida não é medido pela quantidade de dias que vivemos ou pelos bens que possuímos, mas pelo que somos.” (VASSÃO: 1996, p. 6). O que você tem sido? Ainda há tempo para mudar!

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(*) O autor é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife/PE. Professor e Coord. do Deptº de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Especialista em Ensino de História das Artes e das Religiões pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) ; Mestrando em Teologia e História.

Fontes: 1) Extraído do Jornal "Jornal do Commércio" do dia 21 de junho de 2009, no Caderno Cidades; 2) Publicado, também, em http://www.eleitosdedeus.org/reflexao/tragedia-do-af-447-rev-jose-roberto-de-souza.html

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Carta a Elvis: Deus e a Cultura Pop

Caro Elvis (*),


Recebi o seu e-mail comentando sobre a matéria de capa da Revista Época de 12/06/09, que diz que “Deus é Pop”. Seu entusiasmo foi tanto que eu não pude resistir em te responder, para refletirmos juntos sobre algumas das implicações que esse assunto nos traz como povo de Deus.

Quando li o seu e-mail, imediatamente lembrei que, quando éramos adolescentes no bairro do Ibura, periferia de Recife, ficávamos discutindo letras de músicas que gostávamos, e uma delas era “O Papa é Pop”, dos Engenheiros do Hawaii. Recordo-me até do dia em que chegamos à conclusão de que Humberto Gessinger (autor da letra) fez um trocadilho entre pope, palavra inglesa para “papa”, e pop. Foi um deleite só! “Ele fez uma aliteração!”, conclui você todo orgulhoso, depois que saímos de uma aula de gramática sobre figuras de estilo. A gente até achava que os católicos achavam essa música uma blasfêmia contra Sua Santidade. Mas você dizia: “Os católicos são muitos rígidos. Que problema há em ser pop”?

Não me senti surpreendido pelo fato de você ter achado legal a matéria de Época. Você sempre foi mais “mente aberta” para esses assuntos do que eu (inclusive lembro-me de como você ficou chateado com o pastor de nossa igreja quando ele não permitiu que você cantasse um funk gospel no culto jovem – e você ainda estava com um lenço na cabeça!). Você dizia que eu era “quadrado”, “conservador”, e outros adjetivos que não gosto muito de lembrar. Dizia ainda que eu era “da turma dos véio [sic]”, somente porque eu não gostava de muita agitação nos cultos, mesmo que fossem “cultos jovens”. Sempre falei pra você que o culto é para agradar única e exclusivamente a Deus, e que, sendo assim, os “terceiros ficam em segundo plano” (desse tipo de trocadilho você não era muito fã!).

Você vibrou com as estatísticas levantadas pelo instituto alemão Bertelsmann Stifung, que diz que 95% dos brasileiros entre 18 e 29 anos se dizem religiosos e 65% afirmam que são “profundamente religiosos”. “Isso é um avivamento”, concluiu você entusiasmado. Acho que você não prestou muita atenção numa coisa: a pesquisa fala de jovens que se dizem religiosos, o que não significa que necessariamente sejam crentes (confessos, pelo menos) em Cristo. E ainda que fossem, vale ressaltar que nem sempre os números dizem muita coisa. Sei que na igreja primitiva, por exemplo, havia conversões em massa (At 2.41; 4.4). Mas também havia os entusiastas da fé, como no ministério do próprio Jesus (Jo 6.60-66; Mt 16.22) e dos apóstolos (At 5.1-11; 8.13-21). Você acaba esquecendo, por vezes, de que o joio se infiltra no meio do trigo, e considera a superlotação dos templos uma prova da atuação do Espírito. Quando conversávamos sobre os grandes avivamentos da história da Igreja, você fazia questão de jogar na minha cara os grandes despertamentos decorrentes da Reforma. Em contrapartida eu te lembrava das palavras de Jonathan Edwards, ele mesmo um grande avivalista, de que há sempre autenticidade e falsidade nos avivamentos; de que há elementos divinos e humanos operando juntos, e que, por isso, é preciso muito discernimento espiritual para separá-los.

Fiquei sabendo que ultimamente você tem freqüentado uma comunidade dita “emergente”. Talvez seja por isso que você defende tanto a ideia de que a igreja deve se conformar ao mundo, e não o contrário. Lembro-me de que você costumava cantar “eu não vou me adaptar”, dos Titãs, para se referir ao seu enquadramento na igreja da qual éramos membros. Como era difícil tentar te convencer de que não devemos nos conformar a este mundo, mas transformar-nos pela renovação de nossas mentes, para podermos experimentar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus para as nossas vidas (Rm 12.1, 2), e que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus (Tg 4.4; 1Jo 2.15-17). Você cita um trecho da matéria que fala que “é entre os evangélicos que surgem mais propostas de igrejas flexíveis”, o que fomenta mais ainda a ideia de um Deus pop, como você mesmo fez questão de assinalar. Pra você isso é sinal de que, finalmente, estamos aprendendo a evangelizar, o que, para mim, é sinal de que a igreja está negociando valores inestimáveis. Em uma coisa, pelo menos (pra você não dizer que não falei das flores!) estamos de acordo: de que esse negócio de igrejas para gays é contrário à Bíblia (a gente costumava dizer que “Deus não criou Adão e Ivo”!).

A assertiva da antropóloga Regina Novaes de que “a internet virou um templo” faz todo sentido pra você, que não vê mais o congregar-se como algo essencial. “A igreja somos nós, as pessoas”, você vocifera. Sou ciente dos benefícios que a internet pode trazer ao povo de Deus. Eu mesmo sou bastante edificado com sites e blogs que leio e com pregações que ouço e faço download. Entretanto, cabe lembrar, querido Elvis, de que a Bíblia nos recomenda a que não deixemos de nos congregar (Hb 10. 25). A igreja é insubstituível! Além do que, garanto que você não poderá fazer download do pão e do vinho, elementos da Ceia do Senhor, e não poderá tomá-los juntamente com outros internautas. Pense nisso.

Despeço-me dizendo que, a despeito de nossas discordâncias, ainda tenho você em grande estima. Minha esperança é que você possa refletir um pouco nas questões acima expostas. Quanto à máxima de que “Deus é Pop”, bem... Continuo preferindo dizer que “Deus é Deus”!


Um grande abraço!

Leonardo.

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(*) Elvis é um nome fictício, bem como alguns detalhes. As circunstâncias, porém, são reais.

Todas as alusões à matéria de Época foram retiradas do site da revista (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI77084-15228-2,00-DEUS+E+POP.html).

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Heresias escondidas dentro de uma Cabana


O escritor canadense William Paul Young saiu do anonimato para a fama ao publicar um livro que se tornaria, em muito pouco tempo, um verdadeiro sucesso. Com mais de dois milhões de cópias vendidas e status de best-seller, “A Cabana” tem cativado a mente de muitas pessoas ao redor do mundo, especialmente/inclusive dos cristãos. Em linhas gerais, o livro conta a história de Mackenzie Allen Phillips, o “Mack”, um pai de família que encontra a Deus depois de ter sua filha caçula, Missy, raptada e brutalmente assassinada por um maníaco assassino de crianças (um serial killer). Cerca de três anos e meio depois do ocorrido, Deus, ou melhor, “Papai”, manda uma carta para Mack marcando um encontro com ele exatamente na cabana onde a polícia havia encontrado o vestido usado por Missy todo encharcado de sangue. Mack, depois de lutas intensas consigo mesmo, resolve aceitar o “encontro”, mesmo desconfiando de uma possível cilada do assassino de sua filha. Ao chegar lá, Mack tem uma, ou melhor, três surpresas: Deus lhe aparece na pessoa de uma mulher “negra enorme e sorridente” (pág. 73). Logo depois aparecem o Espírito Santo, na pele de uma mulher asiática, chamada Sarayu, e Jesus, um homem médio-oriental (hebreu, pra ser mais preciso) vestido de calça jeans e camisa xadrez. A partir de então, Mack vai viver uma inesquecível aventura ao lado dessa ilustre “Trindade”.

Qualquer cristão que tenha um mínimo de conhecimento de História da Igreja saberá que A Cabana nada mais é do que o ressurgimento de algumas das antigas heresias que tumultuaram a vida e o andamento da Igreja Antiga, principalmente aquelas que envolviam questões sobre a Trindade. Do ponto de vista teológico, o livro oscila entre heresias implícitas e explícitas; do ponto de vista literário, entre frases de efeito medíocres (quase sempre) e alguns poucos insights interessantes. Seu enredo envolvente propõe-se a apanhar os desavisados.

Não sei qual foi a experiência eclesiástica do autor de A Cabana, mas posso presumir que não foi das melhores. Torna-se patente, em muitas partes do livro, o desprezo pela igreja e pela adoração corporativa, ressaltando-se e a valorização da experiência pessoal, como bem reza a cartilha pós-moderna.
[Mack] Percebeu que estava travado e que as orações e os hinos dos domingos não serviam mais, se é que já haviam servido [...] Mack estava farto de Deus e da religião, farto de todos os pequenos clubes sociais religiosos que não pareciam fazer nenhuma diferença expressiva nem provocar qualquer mudança real. Mack certamente desejava mais (pág. 54 – versão digital. Itálico meu).
Parece que a intenção inicial do livro não é a de levar os leitores a uma nova perspectiva sobre a Trindade, e sim, que eles desacreditem da Igreja como sendo a “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e sigam atrás de outras alternativas de encontrar Deus. Em minha opinião, esse é o maior perigo que o livro oferece.

Quando o assunto, finalmente, é a Trindade, A Cabana traz à tona várias heresias antigas (não pretendo fazer comentários exaustivos sobre todas elas). Como já disse anteriormente, Mack vai à cabana encontrar Deus, que lhe aparece no corpo de uma mulher de pele negra. Logo de cara, vemos a verdadeira alma do paganismo, a saber, materializar Deus dando-lhe alguma forma física. Entendo perfeitamente que se trata de um romance e, como tal, precisa de personagens para dar substância ao enredo. Mas, em se tratando do Senhor Deus Todo-Poderoso, essa regra não deve ser aplicada em hipótese alguma. É exatamente isso que Deus expressamente proíbe no Segundo Mandamento (Ex 20.4-5). Jesus mesmo declarou que “Deus é Espírito” (Jo 4.24). Não devemos emprestar a Deus as formas vãs e tolas que concebemos em nossas mentes pecaminosas (cf. Rm 1).

Uma das antigas heresias às quais me referi há pouco é o Patripassianismo, doutrina monarquianista[1] segundo a qual foi o próprio Deus quem morreu na cruz, em vez de Jesus. Tertuliano combateu esse ensino com bastante veemência. Quando, certa vez, ele disse que “o demônio tem lutado contra a verdade de muitas maneiras, inclusive defendendo-a para melhor destruí-la”, estava se referindo justamente a essa heresia, que estava sendo largamente difundida por Práxeas. Ele continua dizendo que “Ele [o demônio] defende a unidade de Deus, o onipotente criador do universo, com o fim exclusivo de torná-la herética[2]”. Em uma passagem de A Cabana essa heresia é claramente visível:
Papai não respondeu, apenas olhou para as mãos dos dois. O olhar de Mack seguiu o dela, e pela primeira vez ele notou as cicatrizes nos punhos da negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele. Ela permitiu que ele tocasse com ternura as cicatrizes, marcas de furos fundos, e finalmente Mack ergueu os olhos para os dela (pág. 86. Itálico meu).
Embora Jesus seja Deus, sabemos que não foi Deus, o Pai, quem morreu na cruz. Deus não tem as marcas dos pregos em seus punhos, como A Cabana quer que acreditemos. Foi o Seu Filho quem foi crucificado. No afã de ressaltar a unidade da Trindade, o Monarquianismo acabou resumindo tudo a uma só pessoa. Em mais uma declaração claramente sabeliana[3], “Papai” diz a Mack que “quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos” (pág. 85). Mas não é esse o ensino bíblico. A Palavra de Deus é bastante clara quando se refere ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como sendo Pessoas distintas que possuem uma mesma essência (ver Mt 28.29; 2 Co 13.13; 1 Jo 5.7; 2 Jo 3). E o pior de tudo é que, para confundir ainda mais o leitor, “Papai” desdiz tudo o que houvera dito antes, dizendo que
Não somos três deuses e não estamos falando de um deus com três atitudes, como um homem que é marido, pai e trabalhador. Sou um só Deus e sou três pessoas, e cada uma das três é total e inteiramente o um (pág. 87).
Seria algo equivalente à “Metamorfose Ambulante” proposta por Raul Seixas (“eu vou lhes dizer agora o oposto do que eu disse antes”)? Será que dá pra confiar no “Deus” proposto por William P. Young?

Mas os problemas não param por aí. Como se não bastasse, o livro também nega a divindade de Jesus. Em uma conversa entre Mack e Papai, Mack pergunta:
— Mas... e todos os milagres? As curas? Ressuscitar os mortos? Isso não prova que Jesus era Deus... você sabe, mais do que humano?
— Não, isso prova que Jesus é realmente humano.
[Papai continua...]
— Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém (pág. 90).
Ora, o que temos aqui não é o velho Ebionismo, que pregava que Jesus tornou-se Messias pelo Espírito Santo? Ou, ainda, o Arianismo, que dizia que Jesus era um simples homem elevado a uma categoria superior à dos demais seres humanos? O autor faz um divórcio entre a Humanidade e a Divindade de Jesus quando diz que “Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém”, quando, na realidade, as duas naturezas de Cristo são inseparáveis. Nas palavras de John Stott, “Jesus não é Deus disfarçado de homem e nem um homem disfarçado de Deus”. Ele é Deus-Homem, como bem foi definido em Calcedônia no ano de 451 d.C. E para dar mais ênfase ainda na humanidade de Cristo, a personagem Jesus “deixara cair uma grande tigela com algum tipo de massa ou molho no chão, e a coisa tinha se espalhado por toda parte” (pág. 95), o que rendeu boas gargalhadas a Mack e Papai. Era só o que faltava: um Jesus todo atrapalhado!

O livro prossegue no enredo seguindo a tônica do “o importante é relacionar-se”. Nada de imposições, de regras. Amor pressupõe liberdade. Baseado nesse pensamento o autor constrói, ou melhor, desconstrói a questão da hierarquia na Trindade. É assim que “Jesus” define a questão:
Esta é a beleza que você vê no meu relacionamento com Abba e Sarayu. Nós somos de fato submetidos uns aos outros, sempre fomos e sempre seremos. Papai é tão submetida a mim quanto eu a ela, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela (pág. 129 – versão digital).
Sarayu, que personifica o Espírito Santo, diz que a hierarquia não faria sentido entre a Trindade (pág. 112). Como é que fica, então, frases como “Seja feita a vossa vontade”? Não havia uma submissão do Filho ao Pai? Jesus disse que desceu do céu para "fazer a vontade do Pai"(Jo 6.38). A Cabana não se coaduna com a Bíblia aqui.

Outro ponto que chama alguma atenção no livro é a questão da onisciência de Deus. Apesar de em alguns pontos ela ser ressaltada (págs. 81, 147, 148, 174, 192 e 206, e.g.), o livro parece bem confuso neste aspecto. Nas páginas 129-130, por exemplo, Jesus diz que “é impossível ter poder sobre o futuro, porque ele não é real, e jamais será”. Sophia, uma personagem que representa a Sabedoria de Deus (Teosofismo?) diz que Deus não pôde impedir a morte de Missy (pág. 151), e que tal tragédia “não foi nenhum plano de Papai” (pág. 152). Entretanto, mais uma vez ele se contradiz, ao afirmar que poderia ter impedido o que aconteceu a Missy (pág. 204). Os leitores mais familiarizados com as tendências teológicas pós-modernas saberão que isso se trata de Teísmo Aberto, uma doutrina que remonta ao Socinianismo do século XVI. Segundo essa ideia, o futuro não pode ser plenamente conhecido (nem mesmo por Deus!), pois depende das ações dos seres humanos (chamados de “agentes livres”). Isso inclui também as tragédias naturais (como o Tsunami, por exemplo). Se isso é verdade, como é que fica, então, a questão do Dilúvio? E de Sodoma e Gomorra? Não foi o próprio Deus quem orquestrou tudo? Não é justamente isso que Ele diz em Isaías 45.7 (“... faço a paz e crio o mal”)? William P. Young parece não acreditar muito nisso.

A verdade do Evangelho é outra questão que está em jogo em A Cabana. Como diria a máxima modernista, “tudo o que é sólido desmancha-se no ar”. Nada de certezas, convicções. Papai mesmo é quem diz a Mack que “a fé não cresce na casa da certeza” (pág. 176), declaração que faria Brian McLaren e Ricardo Gondim babarem! Sarayu diz: “gosto demais da incerteza” (pág. 190). Em outra ocasião Papai diz a Mack: “Quem quer adorar um Deus que pode ser totalmente conhecido, hein? Não há muito mistério nisso” (págs. 85 e 86 – versão digital). E as farpas contra a igreja continuam. Jesus diz: “não crio instituições” (pág. 166). Logo em seguida, numa declaração hilariante, ele afirma categoricamente: “eu não sou cristão” (pág. 168). Aliás, para esse Jesus, o evangelho não é exclusividade. Diante do pluralismo religioso “Jesus” é bastante inclusivista. Ele mesmo diz que
Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa (pág. 168).
Realmente, para um Deus que disse que “a morte dele [de Cristo] e sua ressurreição foram a razão pela qual eu agora estou totalmente reconciliado com o mundo” (pág. 180 – itálico meu) isso não é problema. Universalismo? Imagina! “Não preciso castigar as pessoas pelos pecados” (pág. 109). “Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados contra mim, mas só alguns escolheram relacionar-se comigo”, disse Papai (pág. 209). Que estranho, não? Todo mundo perdoado e alguns que se relacionam? Bom, se é ele quem está falando, quem sou eu para questionar? No meio de toda essa confusão Mack parecia mesmo estar totalmente perdido. Foi “barrado” inclusive de ter seu momento devocional, quando foi perguntar pelas orações, ouvindo da boca de Papai: “nada é um ritual” (pág. 194). Coitadinho do Mack! Não tinha razão em nada! Mesmo quando pensou em Jesus como referencial de vida, um exemplo a ser seguido, ouviu da boca do próprio: “minha vida não se destinava a tornar-se um exemplo a copiar” (pág. 136). E agora, José, ou melhor, Mack? Caía por terra diante de seus olhos toda a instrução apostólica para que sejamos “imitadores de Deus” (Ef 5.1; 1Pe 1.16). Honestamente, quem quiser que confie sua vida a esse “Jesus” de A Cabana. Eu prefiro continuar com o Jesus revelado nas Escrituras.

Ainda não acabou. Falta o “filé mignon”. Que tal uma pitadinha de Espiritismo para temperar nossa estória? Pois é. Mack vê sua filha, Missy! Uau! Que emocionante, hein? Foi Sophia (uma médium?) quem proporcionou esse encontro (pág. 153). E tem mais. Mack reencontra o seu pai (pág. 200), que ele havia envenenado depois de ter levado uma surra que o deixou de cama por duas semanas quando ele tinha apenas 13 anos de idade. Abre parêntese. O pai de Mack era um alcoólatra que batia na esposa, e Mack contou isso a um irmão da igreja da qual seu pai era membro. Fecha parêntese. Esse era um segredo que Mack guardava a sete chaves. Realmente, ele tinha muitas feridas que precisavam ser curadas. Então, por que não fazê-lo com uma sessão espírita? Os dois se abraçaram e fizeram as pazes, com direito a beijinho na boca e tudo (pág. 201). Jesus gosta tanto dessa ideia de beijar na boca que resolve fazer o mesmo com Papai (pág. 205).

Perdoem-me aqueles que ainda não leram o livro, pois revelei muitos dos seus suspenses. Achei por bem não expor absolutamente tudo de errado que encontrei. Expus apenas aquilo que considerei necessário. É perfeitamente compreensível o fato de A Cabana encabeçar o ranking dos livros mais vendidos[4], afinal de contas as pessoas estão à procura de um "Deus" (deus!) que se ajuste às suas pretensões. O que nos preocupa, entretanto, é saber que dentre os que financiam esse tipo de heresia estão aqueles que se professam crentes em Cristo. Sei que se trata de uma ficção, mas infelizmente não é dessa forma ela tem sido encarada. Perguntado sobre o que ele quer que as pessoas concluam ao lerem A Cabana, numa entrevista, William P. Young declarou que deseja que as pessoas “saibam ou tenham a noção de que Deus é bem maior do que eles já imaginaram”[5]. Lembrando de trechos do livro, sinceramente ainda não consigo enxergar grandeza alguma no “Deus” apresentado por Young. O que vi foi uma divindade deficiente que se curva aos caprichos humanos. Continuo preferindo o Deus que se revelou nas Escrituras. Este sim é a minha Rocha!

“Se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebeste,
seja anátema”! (Gl 1.9)

Soli Deo Gloria!!!

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Obs.: As referências tiradas do livro variam entre a versão impressa (Editora Sextante, 2008) e uma versão digital (e-book). Li o livro na versão impressa e fiz minhas anotações, mas devolvi-o ao dono (peguei o livro emprestado!). Depois anotei mais coisas na versão digital. É por isso que eu especifico as páginas e suas respectivas versões quando faço citações.

[1] O Monarquianismo, doutrina desenvolvida no final do século II e início do III, enfatizava tanto a unidade de Deus que acabou se transformando em numa espécie de Unitarismo, negando a realidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo como Pessoas distintas.
[2] Bettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo, 2001. Editora Aste, Pág. 81.
[3] Sabélio ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e mesma essência, três nomes diferentes para a mesma substância. “Deus se manifestou como Pai no Velho Testamento, depois como Filho para redimir o homem e como Espírito após a ressurreição de Cristo. Não houve, então, três pessoas em Deus mas três manifestações” (Earle E. Cairns. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo - SP, 1988. Editora Vida Nova, Pág. 83). Esse ensino ficou conhecido como Monarquianismo Modalista.
[4] Segundo a Revista Veja, em http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/
[5] http://www.youtube.com/watch?v=EaGMliCxyWY.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

"Teste a si mesmo" - Por John Piper

Assista a esse vídeo e reflita!

terça-feira, 24 de março de 2009

Ensaio sobre a Cegueira


Há alguns dias atrás assisti ao filme “Ensaio sobre a cegueira”, dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles. O filme é baseado na obra homônima do escritor português José Saramago, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1998, e conta o drama de uma população assolada por uma estranha epidemia de cegueira. Talvez o fato mais curioso disso tudo é que, em vez de enxergarem tudo escuro, os cegos enxergam tudo branco. É uma espécie de “treva branca”, como alguém já disse.
Não li o livro de Saramago. Aliás, como todo brasileiro que se preze, resolvi pegar um atalho e “pulei” direto para o filme. Embora todo filme destoe um pouco do livro em que se baseia, o âmago da estória é o mesmo (pelo menos nesse caso).
O dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa define ensaio como sendo uma “prosa livre que versa sobre tema específico, sem esgotá-lo, reunindo dissertações menores, menos definitivas que as de um tratado formal, feito em profundidade”. Ao contrário de Saramago, Jesus tratou o tema da cegueira humana com muita profundidade, mesmo usando poucas palavras. Os Evangelhos nos dizem que Jesus curou muitos cegos (Mt 15.30; Mc 10.52; Lc 7.21; Jo 10.21). Teve até uma ocasião em que Ele usou lama, feita com terra e cuspe (Jo 9.6,7).
Entretanto, o pior tipo de cego com quem Jesus se deparou foram aqueles que pensavam que enxergavam. Eram os hipócritas religiosos, que guiavam seus seguidores para a mesma ruína a que se dirigiam (Mt 15.14). Ressentidos pelo fato de Jesus ter curado um cego de nascença, fato até então inédito na história da humanidade (Jo 9.32), eles criticaram duramente a Jesus, que lhes respondeu: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos” (Jo 9.39). Inconformados com a afronta do Messias eles perguntaram: “Acaso, também nós somos cegos?” (Jo 9.40). Jesus retrucou: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado” (Jo 9.41).
A humanidade tem uma grande dificuldade em admitir sua cegueira, pior do que aquele tipo de velho ranzinza que resiste em procurar ajuda médica. Por mais que os discursos humanistas de auto-ajuda digam que devemos olhar o mundo a partir de uma ótica otimista, isso não passa de uma tremenda “treva branca” – não importa o degradê que se aplique ao breu. Na sua Segunda Carta aos Coríntios o apóstolo Paulo nos diz que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo” (2Co 4.4). Isso só confirma ainda mais o primeiro ponto da “TULIP” calvinista: a Total Depravação da humanidade. O ser humano não somente detesta a luz, mas é incapaz de contemplá-la. Cristo é o único “oftalmologista espiritual” que pode dar jeito nessa cegueira.
Soli Deo Gloria!