segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Tragédia do AF 447


Por José Roberto de Souza(*)


Poderia, na condição de teólogo e pastor protestante, aproveitar a situação para expor o que penso e creio sobre a morte, mas não farei isso. Desejo refletir sobre a dor de quem fica e algumas lições que disso podemos aprender.

Percebo que por mais que a morte esteja a um “palmo” de distância dos nossos olhos, ou seja, mesmo que venhamos a testemunhar cotidianamente a presença da morte, seja através da partida de um ente querido, de um amigo, ou até mesmo de um desconhecido, uma coisa é certa: Não nos acostumamos com a morte. Ela é, e sempre será, uma estranha. Eleny Vassão no seu livro: Aconselhando Pacientes Terminais, diz algo interessante sobre a morte: “A simples menção dessa palavra tão deprimente e pesada faz com que desapareça o sorriso dos rostos das pessoas, transformando qualquer conversa descontraída em tétrico e constrangedor encontro. Mas, ainda que queiramos ignorar a morte, ela não deixa de existir. Ela é real e inevitável, pois faz parte da vida.” (VASSÃO: 1996, p. 9).

Recentemente o mundo acompanhou, através dos noticiários, a queda do AF 447, ceifando de uma só vez, a vida de 228 pessoas. Entre as pessoas que partiram, estavam: crianças, pais e filhos, recém-casados, e tantas outras. Havia algo em comum na vida dessas pessoas: Elas pretendiam ou planejavam. Eis alguns relatos de uma revista semanal: “Organizava um congresso médico, preparava-se para o maior passo de sua carreira (...); Começaria a cursar na Itália uma especialização em direito tributário (...); Contava os dias para, no fim do ano, mudar de vida e passar mais tempo com a mulher e as duas filhas (...); Comentou com os amigos que voltaria para as festas de fim de ano (...); Cursava doutorado na França, veio ao Brasil para um congresso e aproveitar a viagem para oficializar seu noivado com a namorada (...); Estava entusiasmado com sua primeira viagem à Europa. Em Portugal, iria encontrar tios e um primo. Mas, no domingo, todos esses sonhos, de matizes tão diversos, de pessoas tão diferentes, se desmancharam no ar, afundaram no mar, caíram por terra.” (VEJA: 10.06.09, pp.86-90).

Esse triste episódio, me fez relembrar as palavras do rei Davi: “Com efeito, passa o homem como uma sombra; amontoa tesouros e não sabe quem os levará.” (Sl. 39:6). Na sua epístola, Tiago ratifica: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.” (Tg. 4:14). Lembro-me de um comercial de uma ótica, que passava nas décadas de 70 e 80, dizia: “(...) A gente pensa que só pode acontecer com os outros.” Independentemente do que cremos, não podemos negar: quando alguém que amamos morre, temos que conviver com a dor da saudade. Por isso, nunca esqueça: “o valor da vida não é medido pela quantidade de dias que vivemos ou pelos bens que possuímos, mas pelo que somos.” (VASSÃO: 1996, p. 6). O que você tem sido? Ainda há tempo para mudar!

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(*) O autor é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife/PE. Professor e Coord. do Deptº de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Especialista em Ensino de História das Artes e das Religiões pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) ; Mestrando em Teologia e História.

Fontes: 1) Extraído do Jornal "Jornal do Commércio" do dia 21 de junho de 2009, no Caderno Cidades; 2) Publicado, também, em http://www.eleitosdedeus.org/reflexao/tragedia-do-af-447-rev-jose-roberto-de-souza.html

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